domingo, 26 de outubro de 2008

Minh bich tinh pirdid e já ficou co vid

Foto de Lili, cachorra do Dez




eu misér tem curtin
ilôt tem cumen barrig chê
assim tinh pensam
eu já fez grand pecad
já deu pándig pu eu cumê e bebê
quand minh bôls ficou vaziu
vós num papiá par mim
fazê vós criad
e tud minh atli putli é d’ós

(dialeto Indo-Português de Damão)






Tradução:

Meu filho estava perdido, mas voltou com vida


misérias tenho curtido
outros comem e têm a barriga cheia
assim vinha pensando,
já cometi grandes pecados
vivi na pândega, comendo e bebendo,
até que fiquei de bolsos vazios
vocês não me ralhem
fazei de mim vosso criado
e ficai com todos os meus trastes

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

para conhecer o gosto da pêra é preciso comê-la



qual verdade
a minha mentira invoca
como garantia imanente?
quem é esse
ao qual estou grudado mais que ao meu corpo
mais que a mim mesmo
cimento/cemitério dos entes que me parasitam
do qual testemunham meus fetiches, calundus, covardias,
minha persona precariamente civilizada?


quem morre?
pergunta o verdureiro
aquele que usa máquinas
e é máquina em suas obras
tem coração de máquina
(por isso) perdeu a simplicidade


o que quer dizer
pensar?
se for não ter ainda desaparecido, digo que:
o meu desaparecimento é pior que todos os outros
(...)
a vizinhança com o ser
é apenas o parentesco mais radical


a dialética dos falsos objetivos
nega
que a ordem e a conexão das idéias
espelha
o caos e a dissolução
das coisas


Quem fala?
pergunta-fundamento
pressuposto político
revelação
ato de fé
daquele que mora
no Tao

terça-feira, 21 de outubro de 2008

 

"Salva Vidas Infindus-Infinito" obra de Tatiana Mayer

a vida humana comporta de fato a fúria de saber que se trata de um movimento de vem-e-vai da sujeira ao ideal, e do ideal à sujeira
(G. Bataille)
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sábado, 18 de outubro de 2008

Joinssance

Ultimamente tenho sentido um fardo ter de carregar livros,cadernos,apostilas de exercício,xerox e aí vai,... nesta hora#agora#foi a primeira vez que comecei a imaginar um novo tipo de acesso ao gozo! De repente comecei a pensar no mundo onde os objetos se tornam palavras através da câmera(olho) que capta a imagem,e se a partir de agora ao invés de trabalhar somente em transformar palavra em outra subvertendo o siguinificante do significado original num processo onde a matriz continua sendo o hipertexto da palavra. Seria interessante incorporar outro plano no suporte matricial original-a imagem capturada pelo olho através da observação empírica no espaço urbano, descrever corpos femininos num american bar, por exemplo... Telas de quadros,cinema,arquitetura para descreve-los reciclarei meus cadernos e comprarei um pen drive e terei de juntar uma grana(vai demorar) para um notebook,juro nada por opulência mas como sou são paulino abedecerei meu significante-mestre, "livros são fadiga" para a carne .Minhas costas que o digam. Já até sei o que orto- marxistas vão dizer, que eu me vendi e algo mais. Não se trata disso, só quero estourar outra matrix, aliás matrix tem as mesmas letras que marx excetuando as letras t e i e e novamente. Aliás no filme a libertação da matrix é uma utopia onde neo seria lênin o primeiro numa série de rebeldes contra as forças do Capital que como no filme continua a cultivar seres humanos. Marx é o oráculo que instrui os rebeldes. Juro por deus que essa leitura foi espontânea e até sexual não tirei de nenhum livro.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

só me encontro quando de mim fujo ― o marinheiro camponês


Desenho de Leonílson
o mundo é gaiola
quadrilonga
pendente de um prego
(ao se tornar história
as pessoas reinventam seus pequenos códigos
inadmitidos no passado
quarto sem janelas
habitação de enredos e mentiras)


Conhecer é estar sempre migrando
por diferentes partes de uma cidade
que não se pode nunca conhecer
completamente


Mas sei que sonho é trabalho do tempo
é coisa ilusão
desde pequenininho que sou medroso
tinha medo alma
agora medo vivo


Neste caderno eu conto
coisa passada em minha vida
como na época não era retratista
colo figurinhas
cada figurinha representa
uma tristeza que comigo morava


as palavras nunca ficam satisfeitas
com o que são
e onde estão

domingo, 12 de outubro de 2008


um em dois,
o dois e o um
a forma primitiva se arranca do caos: enfrenta o nada
morte e peste
viva?
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sábado, 11 de outubro de 2008

dois céus, um claro círculo


Foto de Carlos Patrício

o guerreiro
e o carpinteiro
afiam os seus instrumentos de trabalho
o mestre de artes e ofícios
caminha à frente do estudante
aquele que atinge o Caminho
vê o Caminho em tudo


pena e espada
de comum acordo
+
aceitação resoluta da morte


‘vento’ é um nome para ‘estilo’
Nada, ou Vazio, é o nome da natureza ilusória das coisas terrenas


seja qual for o Caminho
não se pode apontar o que está visível
não há portal
nem interior


e então você começará a pensar nas coisas
com amplitude e discernimento
e a entender o Nada como o Caminho
sob este ângulo mais aberto
verá o Caminho como o Nada
sem o mal
sem virtude
sem existência
o espírito é vazio

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

ECLIPSE


Céu azul
lua amarela
possui numa noite à vir
um teto celestial
com um sorriso verdemente amarelo.

Nuvens no céu do alvorecer
parecem algodões a favor do vento
no claro escuramente céu
da noite domando o dia
com a saída do Sol
a lua é o “astro-rainha”
na noite das súditas estrelas.

O que seria da Lua?
Se não fosse o Sol a brilhar
na sua face escura.

Ao olhar para o céu
de dia não posso ver o Sol
cegar-me-ia
de noite exaltesso a Lua
embelezar-me-á

A vida das paixões humanas...
Roberta Caparroz, de "Meus poemas favoritos escritos num tempo obscuro"