sábado, 27 de setembro de 2008

a Bolha, a Bolsa e o Virgem Again®


Nasci, cresci, vivi ― e vivo ainda, até onde sei ― na Bolha. Uma das características mais salientes da Bolha é que ela não é visível para quem está dentro, pelo que demorei a saber da existência dela. Já para os que estão do lado de fora da Bolha, o problema mesmo é ser invisível. Havia aquele filme com o John Travolta, “O Rapaz na Bolha de Plástico”, ou clássicos como a “Bolha Assassina” com o Steve Mc Queen, mas nem assim a ficha caiu de imediato.

A Bolsa e o Virgem Again® ― assim mesmo, misturando inglês e português ―, também só descobri mais tarde na vida, na adolescência para ser mais exato. Naquele tempo havia todo um florescente mercado negro de revistas de mulher pelada, entre as quais as suecas eram as mais “liberadas”, com um nível de sacanagem comparável ao de uma novela das oito atual com problemas de Ibope. Porém, era nas similares nacionais que se via, às vezes em página inteira, os anúncios da pomada (vaginal?, peniana?) Virgem Again®.

Ao menos na minha lembrança, a embalagem do tal creme era azulada, com estrelinhas e letras brancas que alardeavam a promessa de retorno às primícias de Vênus. As estrelinhas, admito, talvez sejam cabriolas da memória, mas o causo é que, naquele então, desvirginar (se) era questão bem mais premente do que o contrário, de sorte que nunca encontrei quem houvesse experimentado as virtudes “revirginantes” do miraculoso produto.

Incrível que para abordar um assunto da moda me ocorram histórias da época em que os animais falavam e duas superpotências, EUA e URSS, disputavam o mundo. Nada restou daqueles anos dourados: animais, superpotências, EUA, URSS e, quanto ao mundo, bem... Pode ser que, como no caso do ungüento prodigioso, a Bolha e a Bolsa sejam entidades ao mesmo tempo corriqueiras e misteriosas, ou seja, tão fáceis de discernir em seus efeitos, quanto inacessíveis em seus mecanismos recônditos.

Prima facie, diria que a Bolha é o duplo da Bolsa, tanto é assim que ambas são, ou pretendem ser, cassinos virtuais que “precificam” tudo aquilo que interessa e todos aqueles em quem vale a pena APOSTAR. A Bolsa é o templo da verdadeira e única religião do ser humano: o jogo de acumulação, circulação e destruição de riquezas. A Bolha faz o mesmo com pessoas. Bolha e Bolsa confundem-se necessariamente, uma vez que atafulhar pessoas e coisas no mesmo balaio é a vocação atemporal de ambas.

A Bolsa e a Bolha têm andado ultimamente meio perrengues, mas não é doença de morte: o remédio é amargo, mas será pago pelos basbaques de sempre, papagaios de pirata que se acotovelam em volta do palco da jogatina. Por um tempo, Bolha e Bolsa vão aprender a viver descentradas, murchinhas, até mesmo um pouco vigiadas, o que, no fundo, só lhes fará bem: “emergentes” serão “alavancados”, o burguês de hoje vai ser o aristocrata de amanhã, a virtude pagará o habitual tributo ao vício e o resto o emplastro resolve. Lavou, tá virgem ― again!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

a história e o agora

a modernidade é marcada, notadamente, por grandes movimentos de masssas como as lutas pelos direitos domocráticos, pela amancipação nacional, pelo socialismo, pelos direitosciívis dos negros, contra o facísmo. Teorias sociais (como o iluminismo e o marxismo) buscavam explicar a totalidade dos movimentos históricos. A modernidade alcançou seu apogeu com o triunfo do capitalismo e da civilização industrial.
Pensadores como François Lyotard, Gilles Lipovetsky, Jean Baudrillard, Alvin Toffler, Daniel Bell, Christopher Last, Jacques Derridá e outros contribuiem para a idéia de que vivemos uma nova etapa na história: a era da p´´os-modernidade.
No ano de l989, foi lançado o livro, O FIM DA HISTÓRIA E O ÚLTIMO HOMEM, de autoria de FRANCIS FUKUYAMA, ilustre funcionário do Departamento de Estado Norte-Americano. O autor diz aque nunca mais haverá profundas transformações históricas. O capitalismo liberal é a sociedade final. A partir de agora, todos devemos esquecer as lutas políticas, os debates filosóficos e as realizações artísticas de vanguarda. Os conformistas de nosso tempo são únicos sensatos. Os jovens play-boys-mauricinhos, são os únicos heróis. Sendo o único objetivo da vida é fazer compras nos Shopping Centers, a balada, a bomba, andar na moda e votar nos candidatos liberais. Admiravél mundo novo?
Na civilização Pós-Moderna em que vivemos, o setor terceário (serviços) da economia, supera o secundário (industrial). A vanguarda não estaria mais na fábrica, nos motores e nas metalúrgicas, más nos computadores, nos istemas de informação e transportes, nas comunicações, na publicidade, nos centros financeiros. O proletariado, classe revolucionária da modernidade, simplesmente desaparece. Os robôs farão todo o trabalho braçal. Na Pós-Modernidade impera a cultura do simulacro. O que e isso? A simulação da realidade. Por exemplo, uma foto de uma mulher não é a realidade da mulher, más a simulação dela. No Pós-
Moderno o simulacro é essencial. A realidade se consubstâncializa, ou seja, perde a sua fluídez e importância. Vale apenas a superfície, a publicidade, a imagem criada. Na Modernidade compravamos uma roupa por sua qualidade e seu preço. Na Pós-Modernidade, é mais importante ainda o que a calça simula. Ser o que é transmitido pelo sígno da marca, da friffe famosa e o que ela transmite; um tipo de personalidade (que usa aquela roupa, aquela marca), uma postura, um nível social, etc..
A realidade é cada vez mais virtual, ou seja simulada. Veja bem o simulacro não é uma ilusão, é um outro tipo de realidade, por isso chamada de virtual, quando uma pessoa caça monstros num computador, ela realmente tem as mesmas emoções que teria se tivesse caçando um monstro de verdade. Com um detalhe: monstreos n~~ao existem no real, mas certamente são bem vivos no espaço virtual. Através das redes de comunicação por computaror há pessoas que se conhecem e namoram sem jamais terem se visto na vida. O amor e o sexo Pós-Moderno são simulação também. Porque mesmo que você esteja em contato físico com alguém, no fundo estará fazendo amor apenas consigo mesmo. O outro só existirá para confirmar seu universo narcisístico. Por nosso olhar, a questão de fundo, que sempre aflingiu a humanidade, foi e é, que as revoluções e os avanços tecnológicos produziram, sempre, concentraç~~ao de riqueza nas mão de poucos eleitos, levando bilhões de seres humanos a serem ameaçados pela miséria, pela destruição ambiêntal e pela guerra. Talvez seria o caso, agora, de perguntar-mos ao sr. Fukuyama, funcionário de Departamento de Estado Norte-Americano, se os bilhões de flagelados caibam em seu escítório refrigerado.

domingo, 21 de setembro de 2008

a vida imita a arte

Posted by Picasa

Quando a Dra. Nise da Silveira retomou seu trabalho (depois de oito anos de prisão por possuir alguns livros sobre marxismo), as novas técnicas eram o eletrochoque e da insulina. Ela ficou escandalizada pq levavam o indivíduo a um estado de coma. Na contra-mão, propôs a abertura de espaços, a criação de sala de estar e passou a se interessar pela terapia da atividade. Se os manuais de psiquiatria diziam que não havia perspectiva para o psicótico, sua convivência no hospital mostrava que o louco extrapolava o escrito. Ela organizava festas e eventos na enfermaria e as pessoas ficavam espantadas em ver participando doentes que até então se mantinham constantemente alienados. A partir do momento em que a psicose ganhou escuta, tornou-se necessário re-interrogar a identificação primária e reencontrar os caminhos pelos quais o funcionamento psicótico se estabelece na constituição do sujeito. O psicótico procura certificar-se de uma presença em torno da qual seja possível um espaço de inscrição. Sabe-se da importância da cultura na construção da identidade do sujeito mas como dizia o companheiro Godard: cultura é norma, arte é ruptura!

os laços selenes de Idoru



Então me digo:
“acabo de ouvir um grande sino”
pelo tamanho do objeto sonoro
vejo o que não vi


O presente ensina bem mais que projetos futuros


Assim certos cromos
em que verdes, vermelhos, lilases, azuis, matizes
que exalam aromas compostos


Os vestígios do futuro apaga-os o passado
Perguntar para quem o destino?


Acendo um fósforo molhado de ciúmes
alguém me pede um beijo ― é Carnaval
Sigo cabreiro na rua é quarta-feira
tenho uma carta dela no bolso
que vale muito mais do que nós dois
realmente vivemos
muito sós


Procurara fundar uma casa primeira
que tivesse acesso à superfície do mundo
e um contato com o negror das regiões
definidas-indefinidas-veladas-reveladas-mágicas


Uma percepção construída pode guardar além de si
princípios que lhe sejam estranhos?


Never explain, never complain


traição, inveja, cobiça, calúnia, egoísmo
verdade, luta, lealdade, humildade, solidariedade
decisão
Falar, agir, são embaixadores da vontade
portando uma mensagem fatal:
Rosenkrantz e Guildenstein


Tome-se, por exemplo, a forma:
inconsciente auto-retrato
em meio a um ambiente de complexa sofisticação
fragmentada em segmentos cambiantes
a conjuntar frêmito e traço, gesto e estrutura
tesão e terror


Sigo cabisbaixo indisciplinado
a receita vitoriana de não dizer, não transparecer
não sentir, não perder os estribos, não ligar para
o timbre do sino
a ressoar
grave
distante


Procuro-te sem nunca ter visto o teu rosto
numa poça d’água
purificada da minha tristeza que diz: “Nunca mais”
Por que foi que cheguei quando os seus desertos já estavam fechados?


O sonâmbulo com o seu infinito
bailando particular engonçado inocente
e eu creio que seremos brancos e feios
amontoados como pedras
feitas de momentos esparsos como a pontilhar o fortuito
giroflê, giroflá

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Mais real do que a própria realidade

Não existe nada mais escroto do que a próprio real, neste final de semana assistindo um filme chamado "Closer, perto demais" tive um encontro quando essa instância nauseante do universo simbólico. O diretor brinca começando com uma narrativa romântica, bonitinha onde um escritor(Jude law) acha que pode comer duas ao mesmo tempo(Natalie Portland e Julia Roberts) e ficar numa boa, até que aparece um médico(Clive Owen) casa com a fotógrafa (Julia Roberts) e de quebra traça a stripper(Natalie Portland) o aspirante a escritor que gosta de brincar de mulherzinha na internet acaba ficando no cinco contra um. Esse é o destino do Don Juan, que Kierkegaard, analisa bem no seu diário de um sedutor, (camarada sem escrupulos que acha que mulé é brincadeira). Fantasia é bom mas um dia a casa cai.

sábado, 13 de setembro de 2008

SE BEBER ME CHAME


Sci-Fi surreal: estamos cheios das máquinas razoáveis, do siricotico das engenhocas, das arquiteturas moles; cibernéticas sencientes no ápex da neurastenia, do desfalecimento. (Se nos parecemos mais e mais aos autômatos é que o cachorro se parece com o dono.). Sistemas sofrem as agruras da inteligência enquanto (porque) falham ― estes os fatos. Trecos que desabam sobre si mesmos como se tivessem alma! A convergência traz adventos técnicos, as multicoisas (a camisinha musical, p. ex.). Lava-louças com o autêntico sexto sentido: objetos que sentem, se adaptam e controlam suas funções, melhorando o próprio desempenho. Por uma pequena fortuna, um chuveiro que deixa a água maior, mais leve e macia. O ruído branco da cidade secreta
uma camada de nano-circuitos integrados,
novíssimas midiopatias adestram infra-signos,
nos hipermercados cada gôndola mira um neurossinal específico,
enquanto isso,
polígrafos registram espectros de reis barbudos
.

Porque o novo mundo é play(mas também: Ctrl+Alt+Del).

Última Voz


Em outro lado
Em outro som
Em outra vida
Em outra época

Apenas...
Apenas...

O último sopro de um canto sem choro, de uma vida no esgoto.

Um poço
f
u
n
d
o

como um precipício
como um hospício
como,como,como?

Não sei saber, de nada sei.

Agora sou o nada e o tudo!
Poema de Roberta Caparroz

QUALQUER MÚSICA

Qualquer música, ah, qualquer
Algo que me tire da alma
Esta incerteza que quer
Qualquer impossível calma!

Qualquer música – guitarra,
Viola, harmônica, realejo...
Um canto que se desgarra...
Um sonho em que nada vejo...

Qualquer coisa que não vida!
Jota, fado, a confusão
Da última dança vivida
Que eu não sinta o coração!


de Roberta Caparroz, extraído de "Minhas poesias favoritas que eu escrevi em um passado obscuro"

cachaça de burguês

domingo, 7 de setembro de 2008

Não Faças Mandingas de Amor


Pelas horas da manhã
podemos semear as esperanças
a moça bonita diz bom dia
a moça triste às vezes sorri
não seja tolo amigo;
pois à noite as estrelas brilham
e se caso a dor te visitar
não faças mandingas de amor.
Ontem quando adormecemos
esquecemos nossos sonhos vãos
porém é bom gosto acreditar
esperando todo mundo feliz
eu igual a ti, planto rosas
do jardim de bem-me-quer.
Quando choro igual criança
sei que um anjo me acorda
meu coração quase balança
porque o amor existe
e nós carregamos na lembrança
que a vida insiste.
Libni aos 22/08/2008